A Projeção Emocional- Processo Consciência
- Ana Tavares
- 6 de jan. de 2018
- 9 min de leitura
A mente ligada ao ego é primitiva, ainda não adquiriu maturidade emocional e espiritual, tem tendência natural a levar todas as situações que ocorrem para o nível pessoal, e a grande maioria como uma forma ofensiva a essas criações da mente, criou para isso mecanismos de defesa psicológica para protecção da dor e sofrimento.
O processo de consciência de quem somos, envolve também percebermos e conhecermos essa parte de nós mesmos, a forma como projectamos sobre as outras pessoas os medos, as inseguranças, a raiva, a culpa tudo isso são formas de exteriorizar aquilo que sentimos seja de uma forma consciente ou inconsciente.
Os conflitos surgem entre as emoções conscientes, inconscientes e as nossas crenças, assim quando somos confrontados com pessoas, eventos ou situações a nossa mente inconsciente vai buscar essa memória e a reação mais adequada que terá como base a fragilidade ao medo da dor e do sofrimento, onde a pessoa vai reprimir e/ou suprimir as emoções com medo de defender-se ou vai agir com impulsividade e reatividade, reagindo à(s) outra(s) pessoa(s) sem pensar duas vezes, os impulsos serão muito fortes e a pessoa não será capaz de controlar, a menos que estejam consciente de como o processo está a desenrolar-se dentro de si, estes processos foram hábitos, crenças e percepções que adquirimos na infância.
É no meio dessas confrontações emocionais interiores com o exterior que o conflito interno e externo surge, em que as qualidades que consideramos indesejáveis no outro surgem para fazer sair de nós, essas qualidades inaceitáveis que habitam dentro de nós, e que não são observadas, sempre que surgem os mecanismos são activados para que sejam ignorados , como não conseguimos suportar sequer que aquilo faz parte de nós, vamos realmente atribuir e fazer pertencer ao outro, seja uma pessoa, um lugar, trabalho, colega, amigo, seja de alguém e tudo menos que seja uma parte nossa, vamos culpar, vamos criar inimigos, vamos fazer o que for preciso para não sentir essas partes de dor, culpa, raiva, vergonha, ódio em nós.
Costumo dizer que nada está por ser inventado, seja através da criação ou dos escritos antigos muitos do que hoje se fala, estuda e pratica já existia, Freud já dizia que a nossa mente dizia que: "o nosso caratér tinha aspetos que consideramos como falhas", Carl Jung já dizia que: "não nos tornávamos iluminados por ver/imaginar figuras de luz", Gandhi já dizia que . "sejas a mudança que queres ver no mundo", Jesus dizia que : " apenas as crianças entram no reino dos ceús" e "perdoai-lhes pai porque não sabem o que fazem", e tantos outros seres das ciências ás artes que deixaram orientações através palavras e ações pelas quais cada um podia guiar-se e questionar-se a si mesmo.
Ora ninguém quer admitir uma falha, isso está bem firme na matriz do orgulho que habita todos os seres em maior ou menor grau, ora em vez de admitirmos essa falha, o ego criou mecanismos de lidar com a situação e ser um falso livre, mas assim evita lidar com as conotações pessoais das emoções e do que isso traz, infelizmente estas manobras de defesa, criaram uma falsa liberdade e mantém cada pessoa aprisionada nesse jogo da mente, apenas porque não quer aceitar essa partes de si, tomando consciência e responsabilidade de as transformar.
A competição com outros por exemplo, é algo irreal porque a Terra produz abundância suficiente a toda a sua população, invejar a vida do outro é um processo do eu inferior, uma matriz de uma ferida, em que a pessoa esqueceu o seu lugar dentro de si, a sua fonte de amor dentro de si, vive presa na amargura, no ódio, na raiva, presa ao passado, a história que a sua mente esta sempre a despejar como um veneno que consome seus pensamentos e emoções, tornando-a uma incapaz de correr atrás dos seus próprios sonhos, da sua vida, fazendo com que inveje algo que acredita não ter a capacidade de alcançar, ou onde complexos de inferioridade e/ou superioridade se aplicam.
Existem tantas emoções que podemos projetar nos outros, tantas quantas as que temos capacidade de sentir, mas as mais comuns que podemos trazer à consciência podemos ir convidando abrindo a mente a perceber como tem operado em nós.
Alguns mecanismos mais comuns:
a) relacionamento com parceiros amorosos - traição
a pessoa oscila entre a atração, a paixão e sexualidade que um segundo parceiro lhe pode trazer, fazendo assim uma terceira pessoa surgir na sua vida, a mente oscila entre os valores internos e a projecção sobre o impulso interno, nessa oscilação interna que ocorre entre o impulso e os valores, a pessoa pode acusar o seu parceiro de ser infiel para não ter lidar com a culpa que sente em estar permanentemente a oscilar nesses impulsos de traição, mesmo que estes não se manifestem.
b) Imagem
Vivemos tempos onde a imagem corporal pode ser sob valorizada, afinal as redes sociais e os media diariamente enviam mensagens de mulheres e homens com corpos perfeitos e vidas perfeitas, fazendo a quem segue acreditar que o corpo perfeito traz muitas vantagens.
A verdade é que a maioria das pessoas olha-se no espelho e a imagem que vê refletida é ao nível da mente imperfeita, não tem imagens de amor sobre si, aqui pode optar por ignorar essas falhas, aproveitando para valorizar as partes de si que gosta, ou encontrando-as nas outras pessoas.
Pode ainda fazer com que a pessoa para que se sinta bem consigo passe a julgar os outros, seja pelo seu excesso de peso, pela sua magreza, pelo formato do corpo, pela roupa que veste, fazendo com que os atributos físicos do outro sejam desvalorizados e pouco atraentes aos seus olhos e dos outros, assim os sentimentos de inferioridade que sente serão minimizados.
Existe também o polo oposto o da superioridade onde a pessoa devido a aspectos emocionais interiores que sente sobre si mesmo, valorizou trabalho do corpo como forma de sentir superior aos demais.
Em ambos os casos quando a imagem corporal é disfuncional aos olhos da pessoa sobre o que observa de si mesma, podemos oscilar entre a aversão e olhar desfocado sobre a realidade.
c) Não gostar de Alguém
A criança quando nasce vem de uma energia de amor, portanto a sua tendência é gostar de todas as pessoas que a rodeiam, sem julgamentos, à medida que esta vai crescendo essa capacidade de gostar dos outros, vai sendo moldada pelas pessoas que a rodeiam e pelas características da sua personalidade.
Assim a criança passa pelas várias fases até chegar a adulto, onde irá projetar sentimentos nas pessoas que a rodeiam, pode vir a desprezar alguns, odiar outros, julgar outros, na verdade pretendemos projetar sentimentos neles que possam justificar o comportamento menos amigável, esse desamor que habita dentro de nós.
A verdade é que é mais fácil arranjar argumentos para não gostar de alguém, do que admitir a verdade a nós mesmos, que não importa quais os motivos mas não gostamos de verdade daquela pessoa. A transição de um estado para outro implica a verdade acima de tudo connosco.
d) Vulnerabilidade e Fragilização
A verdade é que quando em algum momento sentimos que estamos a ser expostos, ou nos sentimos vulneráveis ao ambiente onde estamos ou ás pessoas, podem surgir o comportamentos de bullying, cada vez mais falado nos nossos dias.
A pessoa que exerce bullying vai direccionar as suas emoções á outra ou outras pessoas, de forma a minimizar as suas inseguranças, assim não tem lidar com as suas emoções. A verdade é que quem é vitima de bullying sofre física ou psicologicamente de forma continua, mas e o opressor aquele que exerce o bullying ? Qual é estado de espirito ? Qual é ambiente hostil onde vive ? Estes opressores procuram seres considerados mais frágeis, para facilmente atacar sem risco de eles próprios sofrerem retribuição emocional dolorosa.
A maioria das crianças que exerce bullying se for estudada cuidadosamente pode viver em um ambiente agressivo, pode ser descurada ao nível emocional pelos progenitores, afinal nos dias de hoje os Pais cada vez tem menos tempo de qualidade amorosa com os filhos, e substituíram isso pelas prendas e o consumismo, quando isso é possível, o que não dá a criança sustentabilidade emocional no seu crescimento, e pode fazer despoletar mecanismo de raiva, ódio e insegurança que podem ser projetados desta forma entre outras.
e) Raiva
Essa emoção que todos escondem custe o que custar, todos fazem um tentativa desenfreada para mascarar a raiva que contêm dentro de si, uns projetam-na físicamente à sua volta, outros psicologicamente, ou ambas.
Existe uma tentativa em manter uma imagem exterior de equilibrio, de calma para negar essa raiva, quanto maior a energia despendida a camuflar maior o caos.
Quando situações exteriores surgem onde a raiva está presente, a pessoa justifica-se com o comportamento do outro para justificar as suas palavras ou atos.
Em algum momento essa energia de raiva, que faz parte da matriz da ira vai sair de dentro de nós, é uma questão de tempo, para poder ser aceite, observada e transformada.
Em algum momento todos já tivemos raiva de nós mesmos seja pelas decisões tomadas, sejam pelas decisões não tomadas, seja pela contradição, enfim seja qual o motivo ela está presente, a capacidade de poder observá-la e aceitá-la é a única que a vai poder transformar, criando movimentos tranquilos e pacíficos dentro e fora de nós, até lá teremos pessoas e situações a mostrar-nos que ela existe dentro de nós.
f) Irresponsabilidade
Aqui está algo que temos dificuldade em admitir, que todos participamos ou tivemos comportamento irresponsável algures, seja porque bebemos demais numa festa assumindo riscos desnecessários à nossa segurança e dos outros, que já fomos imprudentes na gestão do nosso dinheiro, que apesar de sabermos que devíamos terminar uma relação insistimos nela, que compramos coisas desnecessárias, que já delegamos responsabilidades nos outros que não são deles.
Em algum momento para evitar sentir remorsos vamos projetar a nossa irresponsabilidade sobre os outros, criticando as suas decisões e/ou ações, vamos julgar, criticar e identificar as falhas repreendendo os outros minimizando a culpa e o remorso interno, fazendo de nós hipócritas uma vez mais suplantando a nossa autenticidade e amorosidade.
g) Falhar
Ai o fracasso, esse bicho papão a acrescentar aos já mencionados, faz de uns falsos impulsionadores, aqueles que estão sempre a empurrar outros para o sucesso, para as mudanças e as alegrias, como forma de realização através dos outros, o ego assim cria uma ilusão de que o seus fracassos do passado pode ser apagados.
Aqui podemos observar aqueles Pais que empurram os filhos a seguir uma carreira ou um curso na faculdade onde eles falharam ou não conseguiram, os pais que encorajam os filhos a esforçarem-se a ser algo que a sua mente projeta como felicidade. O filho que para fazer a vontade ao seu pai/mãe, ver feliz vai seguir uma carreira que não a sua, a projeção é a da mente corrigir as coisas.
h) Realização
Quando somos pessoas realizadas interiormente isso reflete-se no exterior, seja na nossa vida, seja das pessoas que cruzam nosso caminho e aqui sim temos aspeto positivo da nossa personalidade.
Aqui temos o empresário que começou do nada, tornou um empresário de sucesso e valoriza cada posto de trabalho da sua empresa, porque sabe que apesar do seu esforço ele teve sustentação de cada funcionário, então cria as melhores condições de trabalho a cada um, bem como atividades onde estes sintam que são valorizados pelo seu trabalho, sejam viagens de grupo, prémios produção, convívio, apoio as necessidades familiares entre outros.
Problema da projeção é que pode ser demasiado efetivo na defesa das nossas menttes contra a dor, mas nos quais habitam problemas fundamentais e contraditórios no interior que precisam de ser detetados e observados.
A projeção pode ser de superioridade onde a pessoa sente superior em relação a todos, permitindo-lhe assim ignorar as suas emoções e falhas, as suas inadequações, assim aprimorou a sua capacidade de ver o imperfeito nos outros.
O que pode ser uma fonte de grandes conflitos nas suas relações, porque as falsas expectativas acabam sempre por minar as relações, mas porque não foi desenvolvida a capacidade de ver as qualidades dos outros, assim é como um detetive minuncioso à procura de falhas.
Quando é usado como um mecanismo de defesa, não aborda os temas emoções interiores, continuando a negar a sua existência, ficando assim impotentes porque não desenvolvem nenhum mecanismo de auto ajuda para aprenderem a observá-los, transformá-los e superá-los.
Para podermos transformar essas emoções é preciso aceitá-las como uma parte de nós, para depois começarmos a observar e a trabalhar essas questões interiores que vão surgindo, até que as conseguimos transformar.
Ora ninguém quer dar o primeiro passo e convidar essas emoções que provocam dor em si mesmo, mas a realidade é que enquanto não o fizermos andamos a jogar aos jogos das projeções, vamos sentir o seu efeito na vida de alguma forma, porque ora estamos a suprimir emoções ora esta a reagir as elas, ambas causam desconforto e nunca o deixa ser você mesmo.
Mover-se para longe da projeção é um convite à observação consciente ,que vai começar com emoções mais superficiais até as mais subtis, onde não podemos esquecer que o inconsciente opera seu papel.
Deve começar por observar o que é que tem tendência a projetar nos outros, quais as reações, quais as emoções, será culpa, raiva, será rigidez, será julgamento, será arrogância, será mentira ao trazer isso a sua consciência vai perceber algumas emoções fáceis de identificar e outras nem por isso, porque as enterramos profundamente dentro de nós.
Seja qual for o terapeuta que escolher para fazer este processo consigo deve ser alguém que com gentileza vai detetar e provocar essas emoções, de forma a que sejam conscientes, ajudando a trazer à superfície de forma a que você possa observá-las e transformá-las.
A projeção é uma erva daninha dos nossos relacionamentos com outros, qualquer tentativa de erradicar essas ervas daninhas que já se tornaram um hábito ,só terão sucesso se for pelo consciente e isso exige que a nossa vontade seja a da verdade e autenticidade acima de tudo connosco, e não de pensos rápidos que a longo prazo serão prejudiciais.
Todos fazem algum tipo de projeção, então sem qualquer tipo de julgamento sobre os outros ou nós mesmos a pergunta que se coloca é deseja acabar com esse ciclo de sado masoquismo que faz através das projeções ? Deseja interromper esse ciclo de dor e sofrimento consigo e os outros ? Deseja realmente ser livre ? Deseja despertar o Amor dentro de si ?
Que cada um possa desenvolver por si mesmo a necessidade de compaixão consigo e seu processo, em aceitar-se nas partes todas que o compõe sombra e luz, e depois possa alargar isso aos demais.
Com Amor,
Ana Tavares

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