Energia Sexual
- Ana Tavares
- 9 de jul. de 2017
- 10 min de leitura
Vou iniciar o artigo com uma frase/pensamento de Osho :
A penetração física é sexo, o que é uma coisa muito superficial. A penetração psicológica é o Amor, que é muito mais profundo, muito mais significativo, muito mais bonito, muito mais humano. Então, há um terceiro tipo de penetração: quando duas Consciências se encontram, se fundem. ~ Osho

A energia sexual é muito poderosa porque é a energia vital e o seu instinto o mais poderoso. Por isso mesmo existem tantos mecanismos por detrás da sexualidade que devem ser compreendidos.
Nos dias de hoje, ainda existem inúmeras formas de repressão sexual sejam elas dirigidas ao eu/personalidade para si mesmo, sejam dirigidas à sociedade. Na realidade, esta repressão sexual é uma forma de condicionamento e escravidão humana porque, enquanto cada um de nós não tomar consciência do que realmente é, da sua energia sexual e de como ela opera dentro de nós estaremos condicionados por mecanismos de manipulação. O Tantra Yoga, que no Ocidente tem sido várias vezes confundido com práticas sexuais, é o estudo desta energia e sua aplicação.
“Muitos desejam praticar o Tantra, sem compreender o que isso realmente significa. Para conhecer e aprofundar os mistérios desse caminho é preciso haver amor. No início, o relacionamento serve como instrumento de purificação, até que o amor possa fluir livremente e o silêncio possa fazer parte do encontro; até que o acto sexual se transforme numa meditação e a energia flua para dentro e para cima, em direcção ao coração.” Sri Prem Baba
Temos uma sociedade que, pela psicologia e outras áreas de estudo, comprovou que são as feridas emocionais que geram desequilíbrios profundos em cada Ser. Sabemos que uma criança que não recebeu amor se torna um adulto sem auto-confiança, com problemas de imunidade e emocionalmente frágil. Com isto temos uma sociedade que, devido à falta de consciência de si mesma e do seu potencial individual, alimenta a escravidão no sofrimento emocional. De fato, a melhor forma de tirar a verdadeira liberdade de um ser é não alimentá-lo com Amor. Assim, ele nunca será livre.
Os adultos que lerem este artigo devem nutrir os seus filhos abraçando-os, beijando-os com o seu amor mais puro, dando o seu calor humano a cada criança de forma a que ela desperte dentro de si a consciência de que é digna de ser amada e que a sua vida tem significado. Mas isso implica dar também valores e responsabilidades à criança, de acordo com a sua idade, caso contário, ela perde-se na sociedade e na vida, na sua sombra emocional à medida que esta surgir para ser trabalhada.
Toda a criança deve ser nutrida, aceite, amada e deve sentir que pertence. Quando desenvolvo com os adultos o trabalho com a “criança interior”, é com objetivo de curar estas feridas emocionais, que permanecem no inconsciente, de forma a abrir espaço para a transformação consciente e criativa de si mesmo, com vista a poderem mostrar o seu potencial individual a cada dia.
Na realidade, desde a primeira infância que morremos de fome emocional. A criança não recebe tanto amor como necessita. A maioria dos pais está presente mas ausente. A maioria dos pais tem feridas emocionais profundas que fecharam o seu coração e, como tal, não conhecem outras formas de amar senão pela escassez, sofrimento e manipulação emocional.
Mais tarde, estas crianças crescem e vão para relacionamentos onde procuram ver as suas necessidades emocionais supridas. Vão ter filhos para suprir essas necessidade emocionais, o que na realidade é alimentar um programa inconsciente que continua a retirar o nosso poder pessoal e a colocá-lo no exterior.
Aos 18 anos, momento que é conhecido por nós como o atingir da maioridade, é na realidade o auge da nossa energia sexual, da vitalidade pela inconsciência e a necessidade de cada vez mais cedo suprimir o emocional que não é recebido em casa. Os jovens iniciam a sua sexualidade mais cedo, declinando assim o seu poder pessoal cada vez mais cedo.
A verdade é que no programa individual de cada um de nós existem, e a partir de uma determinada idade são desenvolvidas, as condições necessárias para que a criança não morra de fome emocional, porque a criança, para desenvolver a personalidade do ego, não vai ver as suas necessidades de Amor serem supridas tantas vezes quanto necessitaria. E isto acontece por diversos motivos, nomeadamente porque existem questões kármicas entre a criança e a mãe e a criança e o pai, questões essas que são como que chaves na evolução de Dharma a serem resgatadas nesta vida.
Mas quantos de nós tivemos Pais com consciência dessas realidades todas e quantos de nós somos Pais conscientes de que existe todo um programa individual com chaves a serem abertas em determinados momentos? Muito poucos, acredito. Mas todos esses dispostos a fazer o caminho do auto-conhecimento, resgatando essas partes que nos levam à consciência de quem somos e agindo de forma consciente para com eles.
De facto, a maioria concebe os filhos para suprimir as suas carências afectivas, para agradar ao parceiro ou à programação social. Mesmo que a pessoa pense que tem um filho por amor, as questões de programação reais são muito diferentes de Amor.
Como amar os nossos filhos se não nos amamos a nós mesmos? Como ajudar conscientemente os nossos filhos a lidar com as suas emoções, se nós mesmos não temos essa capacidade desenvolvida em nós?
Infelizmente, negar o Amor a cada Ser é a melhor forma de controlo, porque um Ser sem amor é um ser cheio de fraquezas emocionais, é um Ser fragilizado mental e emocionalmente. Um Ser sem amor, com o tempo, fica com seu corpo fragilizado, começando pelo sistema imunitário e nervoso, o que acabará depois por manifestar-se algures no corpo físico.
Realmente a pessoa que não se valoriza e que não ama quem é, pode até ser dotada de muita inteligência, mas como não tem a força e a energia do amor para consigo, no seu interior, vai acabar por não fazer mudança significativa nenhuma na sua vida, por medo de brilhar, por medo de ser rejeitada, por medo de ser abandonada, por medo de ser humilhada, por medo de sofrer uma injustiça, enfim, ou por todos juntos. Afinal, quem tem amor e amor próprio não tem medo de brilhar, faz mudanças em si mesmo e ao seu redor com coragem.
Já repararam que quando nos apaixonamos ou estamos no meio de um projecto em que a nossa criatividade e entusiasmo são elevados, em que não usamos a mente para julgar quem somos e estamos apenas a fluir com o momento que estamos a viver, nos sentimo no auge, a crescer com a vida? Estamos num estado de alegria. As pessoas apaixonadas são as que dão mais rendimento, têm uma capacidade de execução enorme e as que se sentem mais realizadas.
A energia de Amor tem uma inteligência criativa e sustentadora de tudo. Mas se por algum motivo não podemos amar-nos ou amar alguém, a pessoa está fechada, é fria e a energia não flui em si nem na sua vida. Nada tem vida, seja a sua saúde, as suas finanças, as suas amizades, e tudo tem um tempo contado, porque não tem sustentação amorosa, tem uma sustentação de defesa.
Enquanto aquele que tem amor no coração e troca esse amor com quem o rodeia, é confiante, tem inspiração e inspira outros que o rodeiam. A pessoa pode ser tão confiante que sente-se capaz de tocar as estrelas.
A Mulher quando é amada tem sustentação amorosa na sua vida, seja do seu parceiro/a, das suas amizades ou família mais próxima. E fica radiante como se emanasse um brilho diferente. Ela é banhada por uma fonte de energia pura que a permite ser confiante em tudo que faz. Uma nova aura surge nela. Caminha graciosamente e todos seus movimentos são como que uma dança para quem a observa. Os seus olhos emanam uma luz profunda e transmite alegria a todos os que com ela se cruzam.
Os Homens que permitirem a sua energia feminina desabrochar dentro de si poderão vivenciar um amor livre e fluído. Também terão da/o parceira/o uma energia amorosa que vai permitir-lhes brilhar e serem mais confiantes. Poderão, com esta energia de amor, dar uma verdadeira sustentação à sua energia masculina como uma fonte de energia e criatividade que não se esgota. As pessoas que trabalham com eles têm admiração pela sua alegria contagiante, sabem que são pessoas sensíveis, inteligentes e confiáveis. Além disso, são homens que não têm medo do poder feminino, já que resgataram o seu próprio poder de nutrir-se e de se amarem a si mesmos, e já são amados no seu núcleo por quem são, em cada momento, dando às mulheres à sua volta total espaço para manifestarem a sua criatividade e potencial.
Quando esta dança de amor se dá entre um homem e uma mulher, ou qualquer outra orientação sexual, geramos alegria, bem-estar, harmonia e felicidades em nós e em nosso redor.
Ao passo que as pessoas cuja sexualidade está reprimida devido a feridas emocionais, que na grande maioria desconhecem e que foram concebidas na sua infância, mesmo que tenham breves momentos de paixão, de amor e de felicidade, ao fim de algum tempo começam, tal como a criança, a ansiar pelo outro, a sentir de novo o vazio, e o interesse começa a desvanecer porque algo mudou; o sexo deixou de alimentar como antes o emocional, e aqui nasce a oportunidade de reconhecer as suas carências, as suas feridas emocionais e de perceber que a primeira forma de amor que existe é o amor próprio, que nutre como uma fonte que auto-sustém. Mas voltamos ao principio: quem é que sabe que o programa está concebido de forma a olharmos para dentro?
Devido às feridas emocionais, vivemos a manter-nos uns aos outros em estados de sobressalto permanente, porque todos temos crenças sobre o amor que nos afastam do amor: "o amor destrói", "o amor é dor ", entre tantas outras. Na realidade, o amor traz com ele uma dose de medo. Todos já o sentimos em algum momento.
Mas quando está no auge dessa paixão, você está cheio de força, pronto para lutar contra o mundo e contra tudo o que se colocar no caminho desse amor, certo?
Agora, quando não tem amor ou não está apaixonado, você tem até medo das pequenas coisas da vida.
Será que alguém nos deu permissão para amar? Será que nos damos a nós mesmos permissão para amar?
Será que alguém nos explicou que o amor é o único caminho, não como um cliché, mas como a única realidade onde poderemos ser realmente livres e sentir-nos em verdade com nosso eu, em profunda autenticidade em cada momento?
Na verdade, quem nunca foi amado, quem nunca se sentiu amado ou teve permissão para amar é uma pessoa com medos profundos. Começou por ser uma criança que gerou temores, inseguranças, que, com idade, foram aumentando, e hoje pode sofrer de ataques de pânico e ansiedade. São pessoas cujos joelhos enfraquecem com tempo, cujas costas se curvam, porque não tem sustentação, e vão-se curvando ao longo da vida a todas as pessoas com quem se cruzam, com a esperança de que alguém as veja, que alguém lhes mostre, que alguém as liberte, que alguém as ame pelo que são.
Assim, pela inconsciência, geramos gerações e gerações que mantêm os homens e as mulheres o mais miseráveis possível, porque um homem/mulher miserável não tem auto-estima enfraquece-se a si mesmo todos os dias, não reconhece qualquer valor especial a si mesmo ou a quem o rodeia, não tem fundamentos para lutar pelos seus direitos, não sabe que tudo pode ser transformado de forma criativa e sem esforço, é facilmente manipulado pelas suas emoções e carências, estará sempre na vitimização.
Cada um de nós, por não saber que a energia sexual é uma energia pura que alimenta a nossa energia vital, cria em si imensas disfunções, que as sociedades, ao longo de todas as eras, têm vindo a alimentar de inúmeras formas, para nos manterem alienados do nosso poder interior e pessoal.
Manter as pessoas alienadas e separadas de si mesmas faz com que não consigam ter intimidade consigo mesmas, com as suas emoções, nem com terceiros. Assim mantêm essa ilusão da separação, solidão e não podem unir-se a si mesmas nem aos outros.
Será que temos consciência de somos nós que perpetuamos o nosso sofrimento?
Será que temos consciência de que somos nós que alimentamos a doença, a falta de energia e de vitalidade?
Será que temos consciência, porque não queremos saber como opera a energia, o amor e as leis cósmicas universais, de que perpetuamos nosso sofrimento?
Será que não está na hora de reconhecer quem somos ?
Pois é, o tema é a energia sexual. Mas na realidade nada tem haver com a sexualidade como ela foi ensinada na sociedade ou nos filmes, porque tudo isso tem como objectivo manter nosso estado de alienação. Afinal, enquanto dermos sustentação à energia sexual primária, ela será apenas vampirização, manipulação e será apenas uma forma de estarmos alienados do nosso verdadeiro potencial. Mas isto não quer dizer que as pessoas não possam ter relações sexuais, pelo contrário, passarão a ter relações conscientes e equilibradas a todos os níveis, inclusivé sexual .
É preciso dar um significado consciente à sexualidade. É preciso quebrar os ciclos viciosos. E o único poder capaz disso é o Amor. Mas para isso é preciso abrir o coração, é preciso compreender as nossas feridas emocionais individuais e o drama que foi gerado no nosso programa. É preciso perdoar. É preciso partir os muros do orgulho e da vaidade do ego. Todos nós, Pais e Filhos, criamos estes sistemas de defesa onde nos excluímos uns aos outros.
Todos nós somos Seres imperfeitos, cheios de raiva e de culpa. Todos aprendemos a anestesiar as nossas emoções como forma de camuflar dor e sofrimento imensos, criando máscaras profundas de indiferença e distanciamento entre nós mesmos e todos, que é uma forma passiva de ódio que alimenta o jogo da alienação e não permite sentir a fonte real sustentadora de tudo, que é o Amor.
Procriamos como animais, sem saber que a gravidez tem uma iniciação espiritual para a criança e para a Mãe, e que também o Pai tem um papel tão importante. A consciência da cura das feridas emocionais passa pelo portal da Mãe, depois para o do Pai. Passa pela consciência das emoções e feridas emocionais geradas através de cada um como forma de aprendizagem individual. Os Pais não são os culpados da programação que trazemos, eles são a porta de saída do sofrimento e da dor e a porta de entrada na consciência de quem somos em Amor Próprio.
Espero que este artigo possa trazem uma compreensão maior sobre a sexualidade, a energia sexual e o amor, e que a partir daqui cada um possa percorrer um caminho interior de amor.
Grata a todas as pessoas que nos lêem e que seguem o site.
Grata a quem contribui com seus comentários e partilhas. Desejo-Vos uma semana maravilhosa.
Com Amor
Ana Tavares

artista : Autumn Sky
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