Tipos sofrimento
- Ana Tavares
- 13 de jan. de 2017
- 5 min de leitura
Ao longo da vida passamos vários estágios de dor/sofrimento, existem sofrimentos que ninguém fala, muitas vezes passam despercebidas à familias, amigos e até aos próprios.
1) Perda pessoas que conhecemos
Seja pelas mudanças que acolhemos fazer na vida de uma forma significativa, seja pelas mudanças que a própria vida traz a verdade é que a doença muitas vezes muda as pessoas.
Tenho pacientes de Psicoterapia, cujo os familiares tem Alzheimer, cuja a demência começa a escalar dentro das suas vidas, a pessoa está lá é verdade, mas não é mais a mesma.
Aquilo que as liga são os laços, as memórias compartilhadas, mas as suas personalidade essas não são mais acessíveis, ocorrendo mudanças surpreendentes.
Nesta fase de dor e sofrimento, a pessoa tem tendência a questionar o outro, as verdadeiras crenças de ambos, a linguagem. A pessoa muitas das vezes mostra facetas que reprimiu toda uma vida, passando por exemplo de uma pessoa activa e dinâmica, profundamente independente a todos os níveis, a um ser de total dependência emocional, física e afins.
Doenças como droga, alcoolismo trazem a devastação emocional e física de todos os que vive e convivem com esse drama diário.
Eu sou a maior apologista de mudanças positivas, quem já fez consultas comigo sabe que sou uma incentivadora na vida das pessoas, mas também as mudanças positivas podem gerar sofrimento inicial.
Por exemplo, acompanho uma paciente que percebeu os seus laços emocionais de dependência e carência de depois de largos meses a ponderar, decidiu avançar com uma conversa com seu marido no sentido do divórcio, foi muito doloroso chegar nessa decisão, é doloroso fazer todas as mudanças desde vender casa, mudar de casa, conviver na fase do luto a par com companheiro, a verdade é que dentro de si mesma, sabe que essa será uma boa decisão. Agora à que abraçar essas etapas da mudança.
As vezes as pessoas que nos rodeiam não aceitam as nossas mudanças, acima de tudo porque as suas crenças são dispares das nossas, mas quando á respeito e ele pode ser sempre criado em cada momento, as pessoas que nos amam fazem um esforço por compartilhar.
2. A perda antecipada
O luto antecipada é real, ele é vivido por familiares, cuidadores de saúde e amigos, quando um ser passa por uma doença limitante de vida, muitas vezes ao longo da etapa experiencia-se várias vezes a morte anunciada. E posso dizer-vos é devastador, para ambos.
A previsão da perda contida num diagnóstico, é uma fonte de sofrimento não apenas para a pessoa que recebe o diagnóstico, mas para quem a ama. Perdemos o mundo das assumpções, os planos, o senso de futuro, senso de segurança e sentimo-nos desafiados.
A medida que a doença progride, vamos perdendo tudo que esta adicionado à pessoa .
Vive esta perda antecipada com 13 anos, num diagnóstico médico do meu Avô Materno, que me criava, era uma suposta consulta de rotina ao coração e apresentação de exames, virou um drama para o médico que tinha de comunicar a informação a uma menor, que rejeitou a ideia até não ter outra hipótese, ao meu Avô que recusou que a noticia fosse dada a outra pessoa e que assim que foi dada arrependeu-se porque não estava a espera da morte anunciada e sim de um tratamento, e para mim que já havia perdido um Pai num divórcio, um tio para a paraplegia e agora o Homem da minha vida, que eu tinha o sonho de levar-me ao altar tinha os dias contados.
Na altura achei que a vida somos nós que a fazemos, e que um diagnóstico existe como uma orientação e portanto medidas tinham ser tomadas para adiar ao máximo esta "morte" anunciada.
Na realidade aprendi a lidar com esta perda, nunca durante essa antecipação, porque a fé na vida sempre levou-me acreditar que aquele amor era eterno, e portanto também ele, a sua perda foi das coisas mas devastadores que experimentei na vida, aprendi anos mais a consciência real dessa etapa e da sua importância para ambos. o Amor nunca morre.
3. Perda de nós mesmos

Esta talvez a que estejamos menos preparados para viver, nas inúmeras etapas de vida e renascimento, de mudanças, estágios ao longo de vida, passamos por tantas transições que as vezes temos sensação que nem respiramos entre elas.
Nascemos um bebe, supostamente muito amado pela família, com ideia/crença de que será muito feliz, esta é a primeira antecipação das nossas vidas, todos os seres que nos acolhem enchem-se de expectativas que a grande maioria delas você irá apenas frustar ao longo de vida em comum, afinal a vida que vivemos vier é bem diferente daquilo que nos foi antecipado.
Ao longo das próximas épocas irá viver um turbilhão de emoções que começa com lágrimas nos olhos e que mudam tudo para sempre.
A criança ao longo do tempo vai criando a sua liberdade, não importa que essa transição que passemos seja positiva, porque a vida não é uma corrente só ela tem várias sub.correntes.
Fazemos amigos e "inimigos", tiramos a carta que euforia é a primeira realização da suposta maturidade que a vida prometeu de liberdade e aventura, mas com a carta vem outras realidades duras da vida, no meu caso no dia exame condução foi a perda de acidente automóvel dos meus melhores amigos, depressa a euforia deu lugar à perda e tudo que isso significou muito até hoje. E quantos amigos nosso ficaram no caminho, e outros por impossibilidades da vida ou de doença nem sentiram essa euforia da carta de condução, de um primeiro filho.
A perda dos amigos de infância porque mudamos de cidade, ou o amigo mudou de cidade, a euforia de ida para Universidade mas a perda dos pais e da segurança ligada ao local onde se viveu a vida toda, a perda de um filho sonhado e nunca nascido, e tantas outras que podíamos enumerar.
O luto nem sempre é morte, o luto é acima de tudo o apego e a separação interna e externa, quantas pessoas as há que sofrem um sofrimento atroz sem nem ter enfrentado a perda de um ente querido ?
Quantas pessoas perderam-se a si mesmas no caminho da vida, vivem escondidas atrás de sorrisos amorosos e sucessos profissionais, estas perdas não são reconhecidas pelos demais e as vezes nem pelos próprios, causam danos reais.
Todos nós em algum momento vamos lamentar a perda de alguma coisa, um lugar, uma pessoa, um emprego, um amigo, vamos lamentar a ligação que perdeu-se na lista das possibilidades.
Lidar com a tristeza é preciso, seja encontrar um confidente, conselheiros e grupos de apoio, que possam apoiar cada etapa do ser, é preciso que seu sofrimento seja reconhecido, acolhido e curado. Permitir a compreensão e reconhecer as emoções é uma etapa necessária na compreensão individual e colectiva.
As vezes é muito importante saber que você não foi único a chorar essas situações, é acima de tudo preciso saber que não está sozinho.
E é isto, temos temas mais leves e temas mais profundos, este faz-se necessário para levar ao caminho da cura e compreensão de si mesma/o. Grata por ler no blog, pelas suas partilhas desejamos uma semana maravilhosa.
Com Amor,
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